Voltar
Dicas para não errar na escolha de móveis para área externa

12 julho, 2024

|

CAAPR

Presidente em exercício da CAAPR participa do evento “Diálogo Interinstitucional sobre Equidade de Gênero” na OAB Paraná

Encontro reuniu representantes do Sistema de Justiça do Paraná e da ministra Cármen Lúcia, do STF.

A presidente em exercício da Caixa de Assistência dos Advogados do Paraná (CAAPR), Kelly Cristina de Souza, participou, no dia 11 de julho, do “Diálogo Interinstitucional sobre Equidade de Gênero”. O evento, promovido pela OAB Paraná, reuniu representantes das instituições do Sistema de Justiça do Paraná e contou com a palestra magna da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a atuação com perspectiva de gênero e a representatividade da mulher em posições de decisões no sistema de justiça. 

A presidente da Seccional, Marilena Winter, e a procuradora do Ministério Público do Paraná, Mônica Louise de Azevedo, participaram do encontro e fizeram as saudações iniciais. “O evento se faz muito oportuno por uma situação lamentável que enfrentamos aqui no Paraná, com falas misóginas vindas de um membro do Poder Judiciário. Este encontro, com a presença de magistradas, promotoras, defensoras públicas, advogadas e advogados, é um manifesto de repúdio a toda e qualquer forma de violência e discriminação”, disse Marilena.

A procuradora Mônica Louise de Azevedo, do Ministério Público do Paraná, explicou sobre os objetivos do grupo interinstitucional, criado em 2017, e que nesses anos foi congregando cada vez mais instituições. “Vossa Excelência transformou nossa reunião ordinária em extraordinária. Sua presença enche de brilho esse encontro”, declarou. Mônica de Azevedo explicou que o objetivo é criar um ambiente em que se discuta a equidade de gênero. “Nosso grupo mostra que quando atuamos em rede, saímos mais fortalecidas”, afirmou a procuradora.

Mulheres em movimento

Em sua palestra, realizada virtualmente, a ministra Cármen Lúcia destacou a importância de grupos que se propõem a refletir e pesquisar sobre as causas dessas manifestações misóginas e aviltantes contra as mulheres, seja no espaço particular como no espaço público estatal. “Não somos mais movimentos de mulheres, somos mulheres em movimento permanente, para que daqui a 100 anos não estejamos neste mesmo patamar”, disse a ministra.

“Temos uma cultura preconceituosa e misógina e temos visto cada vez mais isso aflorar. São falas muito contrárias ao direito, são inconstitucionais. Mas isso é o mínimo. Falta compostura, educação, respeito às mulheres”, afirmou Cármen Lúcia, enfatizando o caráter conservador da sociedade, onde há uma ótima retórica, mas, na prática, os problemas se impõem, como fruto de uma cultura secular em que às mulheres são reservadas as obrigações da casa e aos homens o que é público.

“Por tudo isso é que precisamos saber o que fazer para alterar essa situação. No Estado moderno, a nenhuma mulher foram assegurados direitos sem que elas tivessem lutado para isso”, frisou a ministra.

Ao comentar sobre a baixa representatividade feminina no Poder Legislativo, Cármen Lúcia lamentou as fraudes à cota de gênero, que colocam mulheres emprestando seus nomes para deferimento de outras candidaturas. Segundo a ministra, o maior número de processos na Justiça Eleitoral entre fevereiro de 2022 até hoje foi de fraude à cota de gênero.

Formas de violência

A ministra do STF também citou mulheres que foram silenciadas pela história, como Hipólita Jacinta, que teve participação na Inconfidência Mineira, Bárbara Alencar, primeira presa política do Brasil, Maria Quitéria e Dona Leopoldina, pela sua atuação no processo de independência do país.

Falando do Brasil atual, Cármen Lúcia lembrou que somente no ano passado a tese da legítima defesa da honra, em casos de feminicídio, foi declarada inconstitucional pelo Supremo. “Não é possível aceitar a tese de que a mulher se leva para a própria morte”, disse.

“Todas as formas de violência se voltam contra as mulheres. Estamos num movimento de efetividade dos nossos direitos que, na retórica, já teríamos, mas o olhar de preconceito é demonstrado em cada momento”, observou, acrescentando que até mesmo o discurso de ódio é diferente para homens e mulheres. “Todo discurso contra nós é para desmoralizar, envergonhar, tem falas sexistas, machistas, misóginas, é extremamente violento e refere-se unicamente à condição de sermos mulheres”, destacou.

Para a ministra, é papel das mulheres de hoje buscar a efetividade de direitos. “Temos o dever de oferecer essa contribuição e por isso estamos todos os dias lutando para fazer valer o princípio constitucional de que somos todos iguais. Juntas somos mais”, finalizou.

Responsabilidade

O evento contou ainda com a participação da desembargadora do Tribunal de Justiça do Paraná Ana Claudia Finger. “É fato público e notório a desigualdade nos espaços de poder. A nossa sociedade é majoritariamente feminina, mas lamentavelmente nas instâncias de poder, nos espaços de decisão a ocupação dos cargos decisórios é majoritariamente masculina”, observou a magistrada que ingressou no TJ-PR pelo quinto constitucional da advocacia.

A desembargadora também enfatizou a importância de o Judiciário trazer sobre si a responsabilidade de promover a igualdade de gênero. “O Poder Judiciário precisa assumir o dever e a responsabilidade que lhe cabe na interpretação e na aplicação das normas constitucionais para produção da cidadania e da igualdade de gênero, tratando efetivamente as questões femininas como direitos humanos. A eliminação de todas as formas de discriminação, de misoginia e dos tratamentos estereotipados que revitimizam a vítima, como lamentavelmente vemos. O olhar com a perspectiva de gênero não é apenas uma escolha ética, é um imperativo inarredável”, concluiu.

A vice-presidente da Caixa de Assistência dos Advogados do Paraná (CAAPR), Kelly Cristina de Souza, falou sobre a necessidade de mulheres e homens atuarem juntos contra o machismo. “Vivemos em constante luta contra a cultura machista, que não é uma guerra contra os homens. Na verdade, é uma busca para reduzir a resistência das pessoas em questionar e combater as pautas femininas. É buscar, juntos, medidas que promovam a igualdade de oportunidades e que facilitem a conciliação entre a vida profissional e a carreira das advogadas”, explicou. “Ainda somos vítimas de preconceitos, piadas inoportunas, cortam as nossas falas. Sem dúvidas, as mulheres advogadas são as que mais sofrem violações de prerrogativas”, lamentou a vice-presidente da CAAPR, lembrando que 35% das mulheres advogadas já se sentiram discriminadas pelo gênero e um terço já sofreu assédio em ambientes de trabalho.

Com informações da OAB Paraná.