11 setembro, 2020
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CAAPR
II Simpósio Setembro Amarelo discute prevenção ao suicídio em tempos de pandemia
A Caixa de Assistência dos Advogados do Paraná (CAA-PR), através do projeto Saúde Mental, promoveu, no dia 10 de setembro, o II Simpósio Setembro Amarelo: pela promoção da Saúde Mental. O evento, transmitido ao vivo pelo Youtube, foi realizado parceria com a OAB Paraná, com a Escola Superior de Advocacia da OAB Paraná (ESA), com o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), com o Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (TRT9), com a Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar) e com a Escola da Magistratura do Paraná (Emap).
A secretária-geral adjunta da CAA-PR, Silvana Cristina de Oliveira Niemczewski, destacou o trabalho realizado pela CAA-PR através do projeto Saúde Mental. “Por meio de palestras mensais, terapias individuais e grupos, o projeto pretende ajudar na prevenção do tratamento de doenças mentais causadas pelo exercício da profissão”, explicou.
O presidente da OAB Paraná, Cássio Lisandro Telles, ressaltou as ações significativas da CAA-PR durante a pandemia para atender os advogados paranaenses. “A advocacia precisa de auxílio, de cuidado e de assistência. Felizmente a CAA-PR não parou e continuou promovendo ações em favor da saúde, do lazer, dos exercícios físicos e da prevenção de doenças”, disse.
Em sua fala, a diretora tesoureira da CAA-PR, Claudia Barroso de Pinho Tavares Montanha Teixeira, comentou que o projeto beneficiou vários advogados e dependentes no primeiro ano de existência com os atendimentos presenciais e on-line, principalmente durante a pandemia. “Os psicólogos vêm desempenhando um lindo trabalho nesse projeto”, afirmou.
Também fez parte da mesa de abertura o coordenador de Direito Público da ESA, Francisco Zardo; o desembargador Clayton Maranhão, diretor-geral da Emap; e a juíza Valéria Rodrigues Franco da Rocha, titular da 13ª Vara do Trabalho de Curitiba.
Depoimento especial
A juíza Larissa Koteski, da 70ª Sessão Judiciária de Jaguariaíva, compartilhou um depoimento especial sobre o desembargador Carlos Eduardo Andersen Espínola, do TJ-PR, que cometeu suicídio em 2018. “Ele sempre foi uma pessoa alegre e brincalhona”, lembrou Larissa, que foi estagiária do desembargador. Larissa contou que, após o fato, a primeira reação foi de raiva, por achar que alguém estaria inventando uma mentira.
“A sensação de raiva foi passando e se transformando em culpa. Você fica pensando no que poderia ter feito, em como se omitiu a ponto de deixar isso acontecer”, disse. “A gente sempre vai se perguntar ‘por que eu não agi quando poderia?’ ou ‘por que eu minimizei a dor do outro?’. Acho que esse é o aspecto mais difícil das doenças psicológicas”, explicou.
Para Larissa, dois desafios precisam ser superados na área jurídica: o preconceito acerca das doenças mentais e dar tanta importância para a saúde mental quanto para os prazos e processos. “Cuidar da saúde mental exige tempo. Fica difícil conciliar a saúde mental e colocar ela num patamar de igual importância das outras questões que envolvem o nosso cotidiano. Eu considero que deve sim ser tratado como algo prioritário e preventivo.”, disse a juíza. “Pode ser que, se esperarmos mais tempo para fazer algo, não haja mais tempo e a gente já tenha perdido mais pessoas, como eu e meus colegas perdemos o Doutor Carlos”, finalizou.
Suicídio no aspecto do Direito Trabalhista
Zeno Simm, desembargador aposentado do TRT9, iniciou a sua exposição falando sobre a média de mil suicídios cometidos anualmente nos Estados Unidos, na França, em Portugal, na Espanha e no Brasil. “O número é assustador”, afirmou. Simm explicou que o suicídio está entre as 20 maiores causas de morte no mundo. “O ato suicida muitas vezes significa parar de sofrer. A pessoa está em um estado de desesperança e quer encontrar paz e fugir dos problemas”, disse. “Muitas vezes o suicida morre tentando matar a dor, e não tentando pôr fim à própria vida”, complementou.
Simm frisou que o local de trabalho deve promover o desenvolvimento do indivíduo como ser humano e não contribuir com a degeneração da sua saúde ou com a sua morte. “Muitas vezes o trabalho ou o ambiente de trabalho é frustrante, irritante, insuportável e são essas condições adversas que levam o indivíduo a fugir desse problema”, esclareceu. Para o desembargador, o ambiente de trabalho oferece diversos riscos psicossociais. “Não são apenas os riscos previstos na legislação trabalhistas de agentes físicos, químicos e biológicos que podem afetar a saúde e a vida do trabalhador, também os riscos psicossociais são muito importantes porque levam aos transtornos mentais que podem levar até ao suicídio”, indicou.
“As pessoas costumam dar algumas dicas em frases ou comportamentos e precisamos ficar atentos aos sinais”, disse o desembargador. Ele também chamou a atenção para a Lei nº 13.819/2019, que instituiu a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, e para o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio por telefone ou chat.
Prevenção do suicídio durante a pandemia
“É um assunto muito triste, mas muito humano”, disse o psiquiatra Saint-Clair Bahls no início de sua abordagem. Ele comentou que o suicídio é um comportamento multifatorial e bastante complexo, já que possui comportamentos antecedentes como a idealização, a ameaça, a tentativa de suicídio e o suicídio em si. “A maioria das pessoas que pensa no suicídio é ambígua, elas não têm a certeza de que querem morrer”, alertou.
A pandemia de Covid-19 é um dos fatores de risco para o suicídio. Entretanto, o psiquiatra garantiu que as tentativas podem ser evitadas dependendo das estratégias. “Pessoas em crises suicidas requerem atenção especial”, advertiu. Bahls explicou os fatores que podem impedir a tentativa de suicídio. “Autoestima elevada, bom suporte familiar, laços sociais bem estabelecidos e religiosidade são alguns dos fatores protetores”, enumerou.
O psiquiatra também apontou cinco maneiras de combater o suicídio: “aprender os fatos sobre o suicídio, falar sobre o assunto, oferecer esperança, corrigir os estereótipos negativos e oferecer informações adequadas para a mídia”, elencou. “Estamos vivendo tempos sem precedentes. A pandemia causará sofrimento e deixará muitas pessoas vulneráveis aos problemas de saúde mental e a comportamentos suicida”, finalizou.
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