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13 agosto, 2021

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CAAPR

“É vital optar pela vida e ouvir corpo e mente”, afirma Leandro Karnal

Em palestra promovida pela Caixa de Assistência dos Advogados (CAA-PR) e pela OABPrev/PR nesta sexta-feira (13/8), como parte da programação da 7ª Conferência da Advocacia Paranaense, o professor e historiador Leandro Karnal afirmou: “Estudar Direito sempre foi um convite a refletir sobre a Justiça”.  Filho de advogado, ele citou também a importância do zelo pela Justiça neste momento da vida brasileira. Ao falar sobre os dias que correm, Karnal destacou que sua geração foi educada para trabalhar duro, não reclamar e não ceder a sentimentalismos. “Isso está mudando. Hoje temos todos, advogados ou não, de acordar para um projeto de vida. Um projeto que neste momento de pandemia é mais importante do que nunca. Não é possível ignorar os sinais de estresse, os problemas de sono, as explosões excessivas diante de problemas cotidianos”, destacou.

Ele frisou que a advocacia sempre requereu estudo constante e muita leitura. “Quem faz Direito ama ler e tratar com pessoas. Isso não precisa ser reforçado aqui. O advogado que não se atualizou já começou a ficar para trás. Mas há um desafio novo. Passamos de um mundo VUCA – volátil, incerto (uncertain) complexo e ambíguo — para um mundo BANI – frágil (brittle), ansioso, não linear e incompreensível”, disse antes de mostrar que o salto implicou no aumento do nível de estresse. “Não temos casas adequadas a serem espaços de trabalho, não temos isolamento acústico, nossas rotinas foram quebradas, não fomos treinados para falar com uma câmera. A grande quantidade de quebras de decoro que vimos não são exatamente trapalhadas. São angústias. Quem não está angustiado este ano, tem outro problema, que é a indiferença ao real, um tipo de patologia. Passamos a ter desequilíbrios em vários campos”, lembrou.

Escuta

Karnal mencionou que a meditação está sendo amplamente recomendada, inclusive no Vale do Silício e por figuras de destaque mundial, como o escritor israelense Yuval Harari. “Silenciar o barulho exterior e ouvir o que o corpo fala é vital”, aconselhou. Para o palestrante os tempos atuais também pedem uma reflexão sobre os valores mais relevantes para cada um de nós. Ele citou o caso da ginasta Simone Biles — que optou por não se apresentar nos Jogos Olímpicos mesmo estando em Tóquio — para indicar a importância do estabelecimento de prioridades. “O Evangelho diz: de que adianta ganhar o mundo e perder a alma? Sem base religiosa eu digo: de que adianta ganhar mais um dinheiro se você entrar em colapso? Que lugar ocupa a sua estabilidade pessoal no seu projeto de vida?”, questionou.

O palestrante recomendou, para uma boa carreira, a lealdade aos próprios valores e a fixação de limites inegociáveis, tal qual os de Simone Biles, que optou por sua sanidade em vez de priorizar o quadro de medalhas de seu país. “Há momentos em que vale a pena dar uma arrancada e, claro, algum nível de estresse é razoável nessa hora. Mas não devemos nos exceder nas concessões. Temos de perder o medo de parecer sensível ou frágil. Pela lógica do mundo, quanto mais se oferece trabalho competente, mais tarefas vão surgir. Se cada ano lhe derem mais tarefas — com muitos elogios e talvez compensações financeiras – você seguirá até o colapso. Você não é imortal”, alertou.

Protagonismo

Karnal também aconselhou cada profissional a deixar as reclamações de lado e a ser protagonista de sua vida, não atribuindo a terceiros responsabilidades por sua própria vida. “É preciso que outra pessoa mande você fazer check up anual? Ser protagonista é ter capacidade de resolver os próprios problemas. E se não houver solução, melhor. Nada a fazer. O protagonista tem propósito.”

Karnal lembrou que o mundo não está melhor ou pior que o de nossos avós. “O mundo está mais acelerado. Mas é na crise que refletimos abertamente se viemos a trabalho ou a passeio. Qualquer um navega em mar tranquilo, mas só profissionais se saem bem em águas revoltas. Devemos buscar o melhor de nós sem nos sobrecarregar e sem sofrer com as perdas. E toda a escolha implica perda. Eu, nesse mundo que passou de VUCA para BANI, preciso saber o que fazer para manter minha paz, meu equilíbrio, caminhando na minha carreira”.